terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Desconhecidos

 "Passo a passo, um rapazinho seguia o caminho que o levava em direcção à Floresta dos Cem Ramos. Do outro lado da floresta encontrava-se a vila, e enquanto pensava no caminho que ainda teria que percorrer, o infante abria com dificuldade a bainha de cabedal que tinha presa à cintura. 

 Com as duas mãos ocupadas: uma com o punhal que o pai lhe tinha oferecido há anos atrás e a outra com a lebre que acabara de caçar, teve que abrandar o passo e aplicar um pouco mais de atenção ao que tentava fazer. Ao longo da faca, de lâmina ainda suja, escorriam gotas avermelhadas e brilhantes de sangue ainda quente e fumegante que pertencia à lebre, por isso, antes de mais nada, ajoelhou-se, procurou uma folha qualquer limpa, e poisando o animal morto no chão, deslizou-a na superfície lisa do punhal. Quando acabou de limpar a faca largou a folha outra vez no chão, embainhou o punhal, agarrou a lebre de novo sacudindo-a com cuidado para tirar a terra e levantou-se.

 Eram mais ou menos seis da tarde e a luz já se dissipava por entre as folhas das árvores. À medida que esta enfraquecia o rapazinho ia deixando de ver e pensando cada vez mais na lanterna que devia ter trazido. De vez em quando um ramo de uma árvore ou de um arbusto esquivava-se por entre os seus dedos e embatia numa das suas bochechas ou na testa deixando-a rosada:

 - Ah! Ah! Ah! - ia segredando a si mesmo cada vez que era chicoteado.

 O caminho era longo, e embora houvesse um carreiro que cortava por entre o bosque, àquela já só havia uma distinção possível aos seus olhos: o chão era preto e as árvores escuras, por isso limitava-se a andar a direito."

Sem comentários:

Enviar um comentário