quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Como Usar um Punhal

"  Repentinamente, tudo parou. Gabriel também se apercebera de algo mais para além da agitação do irmão, mas agora a presença intrusa tinha passado a um par, por isso o fugitivo resolveu subir a um dos pinheiros bravos que o rodeavam. Talvez nas alturas fosse capaz de distinguir alguma figura. Enquanto isso, Rafael parou de disparar, empunhou um punhal que tinha guardado numa das presilhas das calças e encolheu-se, ficando o mais perto do chão possível para que se tornasse indetectável. Sabia que a ele lhe cabia fazer o mesmo que Gabriel de forma a aumentar o campo de visão e ficar igualmente invisível, mas, se assim o fizesse, o mais provável era que fosse visto do que vice-versa, por isso petrificou.
  O silêncio manteve-se daí em diante e continuou inquebrável quando Eva se deixou cair sobre Rafael, dando a Gabriel um vislumbre do seu cabelo brilhante, que Gabriel mal conseguiu distinguir, pois foi imediatamente atropelado pelo que lhe parecia ter a força de um tronco. Com braços bastante fortes, por sinal! Só se apercebeu que se tratava de Michael, quando este lhe deu a oportunidade de se virar sobre as suas costas no tronco onde antes se acocorara, dando de caras com um olhar e sorriso gozão e uma mão que lhe assaltou a cara, cobrindo-lhe a via oral. estava preso pelo irmão mais velho e nem podia ordenar-lhe que o soltasse.
  Estrebuchou um pouco até que, finalmente, o irmão o soltou, mas sem que antes lhe indicasse que não fizesse barulho. Gabriel não percebeu a causa para tal, mas obedeceu, endireitou-se, curvando-se e envolvendo o seu poiso com as mãos.Só depois de se recompor pôde fazer sentido de tudo o que se estava a passar.
  Lá de cima, lado a lado com Michael, conseguiu observar que Rafael estava a ser caçado: encurralado e confundido como um rato que tenta sobreviver a um gato brincalhão ou até mesmo esfomeado. Não de forma séria e perigosa, mas como um treino planeado por Eva, que se encontrava a poucos metros de Rafael empoleirada num outro pinheiro sem que o rapaz se apercebesse de nada. Afinal era esse o objectivo: ver como reagia.
  E ali estava ele, esparramado no chão, coberto de terra e pedaços de plantas, depois de ter sido espezinhado pela rapariga. Quando foi capaz de se apoiar nos pés, pegou no seu arco e direccionou-o às árvores, procurando uma cor diferente ou algo estranho que acusasse o intruso. Conseguia distinguir cada folha de cada conjunto que os seus olhos sondavam, conseguia distinguir cada copa de cada uma das árvores, que ramalhavam à distância, mas do seu atacante não havia sinal. Não havia ruído ou cheiro que o denunciasse, mas, quando menos o esperava, vindo do nada, sofreu mais um encontrão, desta vez no braço direito, que esticava o fio do arco. Desta vez o ataque fez com que Rafael disparasse a flecha para o infinito e perdesse uma munição. A última que tinha: foi o que concluiu quando passou a mão pelo interior vazio do cilindro que tinha pendente nas costas.
  "Bolas", pensou. Não havia sinal de Gabriel e agora nem se podia defender. A sua prática era com arco, mas só tinha o punhal, que continuava inerte no solo e era melhor do que usar as mãos, por isso fez-se ao chão o mais depressa que pôde e voltou a empunhar a arma, que representava a sua última esperança.
  Manteve-se em posição defensiva, com a faca envolta na sua mão direita e de lâmina voltada para fora, para que pudesse esmurrar e esfaquear. Conforme a necessidade. Continuava sem saber o que havia de esperar e, ainda mal se tinha conseguido acalmar, foi obrigado a rodar todo o seu tronco em cento e oitenta graus e, num piscar de olhos, o punhal estava afundado na anca de Eva, e a rapariga... ela estava deitada de lado no chão, rindo-se dolorosamente."


Um texto um pouco mais narrado, mas ainda assim com o mesmo interesse dos outros :p espero que gostem e que me acompanhem até ao fim deste e talvez de muitos outros. Talvez até de uma vida :)

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